quarta-feira

comboios de brincar valentine

nem sei por onde começar. vou sempre começar pelo sítio errado. por isso nada a perder. o meu pulso direito dói. tem uma dentada feia. a dentada dói a telemóvel desligado, a conversa sem sentido. a dentada. passo os dedos e sente-se a frase outra vez, como é que vim parar aqui outra vez. há sítios entre nós que se chegam por teletransporte.as nossas moléculas são desfeitas e aglomeradas num ponto novo. por vezes, até pode ser o ponto g. outras vezes, é o ponto catástrofe. Estamos no meio da linha, sentimos o comboio a vir. ainda há pouco estavamos em casa e agora estamos no meio da linha. não corremos para lado nenhum e sentadas esperamos que o comboio nos passe por cima. e ele passa.
quando o comboio expresso passou ontem por cima de mim pensei que esta mania dos comboios tinha de acabar. afinal uma pessoa magoa-se. mas há uma coisa com os comboios. pouca-terra-pouca-terra. os carris, os wagons lits, os crimes no expresso do oriente, o sud express, santa apolónia, saint lazare, grand central station. percebo que haja uma diferença entre apanhar o comboio e ser esmagada por um. mas ainda assim, é um comboio, choop, choop train, pouca-terra-pouca-terra, transiberiano, o sotavento.
e no entanto nunca fomos de comboio a lado nenhum. um destes dias pego num comboio e rapto-te, nunca aconteceu. vai acontecer, nunca vai acontecer, a terra é pouca-a-terra-é-pouca?
e quando acordei do comboio, pensei que era quarta feira e que me sentia tão mal dormida como se tivesse dormido toda a noite num comboio sem couchette, direita em cima de um banco, tão mal dormida que só te queria dizer olá, desculpa, fomos atropeladas ontem por um vagão locomotiva, eu sei, mas não fazia ideia que aquela hora ainda passavam comboios e por isso fomos parar ao meio da linha. bom dia, olá, desculpa-me a mim.

segunda-feira

alerta laranja

segundafeira de laranja queimada ou aquilo que não se deve fazer à segunda quando se queima um bolo no domingo.
deveria estar sossegada. mas não. insisto e persisto. política de terra queimada.
não consigo e gostava. presença de espírito. que mais não se faz à segunda?

imensa presença de espírito. perfeita indiferença. a conclusão é que queimar um bolo ao domingo nos torna imúnes à segunda feira. afinal é tudo tão simples. é a alegoria do forno.